terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Cristologia (4)

Jesus e suas duas naturezas

   "Dos quais são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amem!" Rm 9.5.

   Assim como é heresia negar a divindade de Cristo, também é heresia negar-lhe a humanidade. A natureza divina e a humana estão juntas na pessoa única de Jesus Cristo.
   Nesse estudo vamos abordar as duas naturezas de Cristo: a humana e a divina. Jesus viveu entre nós, empregando as qualificações e características humanas, exceto o pecado. Como Deus, Ele manifestou todo poder e glória. Ele é o Eterno e verdadeiro Deus, e ao mesmo tempo, verdadeiro e perfeito homem, algo desconhecido na raça humana devido à Queda no Éden.
  
   1) A natureza humana. A Bíblia trata de Jesus como homem quando Dele como sendo da semente da mulher, ou seja, que teria, em sua encarnação, a natureza humana (Gn 3.15). Quando Gabriel anunciou a Maria que ela seria a mãe do Messias, Maria alegrou-se porque teria um filho. De acordo com Rm 1.1-7, o apóstolo Paulo aborda a expressão: "Nasceu da descendência de Davi segundo a carne", usada amiúde, revela a identificação de Jesus com a humanidade. Ele emprega o termo "carne" com esse mesmo sentido em Rm 9.5. Era conveniente que Jesus viesse ao mundo como homem; se assim não fora, não poderia sofrer e, por conseguinte ser o Salvador da humanidade (Hb 2.17). Além disso a Bíblia mostra a humanidade de Jesus, inclusive sa linhagem (Sl 22.22; fp 2.6-11; 1 Tm 2.5; 2 Tm 2.8). Sua genealogia encontra-se em Mt 1.1-17 e Lc 3.2-38.
   Os Evangelhos apresentam algumas características humanas, ou seja, atributos próprios da humanidade de Jesus. Embora gerado por ato sobrenatural do Espírito Santo, o Metre nascera de uma mulher (Mt 1.18, 20; Lc 1.35) e teve irmãos e irmãs (Mt 12.47; 13.55-56). Sentiu sono, fome, sede e cansaço (Mt 21.18; Mc 4.38; Jo 4.6; 19.28). Sofreu, chorou, angustiou-se (Mt 26.37; Lc 19.41; Hb 13.12) e, por fim, passou pela agonia da morte. Mas, ressuscitou glorioso, poderoso e triunfante ao terceiro dia (1 Co 15.3,4).

   2) A natureza divina. Jesus é Deus desde a eternidade. Esteve envolvido no ato da criação, indicando que já existia antes dela. Paulo confirma sua atuação criadora: "Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra... Tudo foi criado por ele e para ele", Cl 1.16. A expressão "Filho de Deus", conforme vimos em Cristologia (3), é uma das revelações da divindade de Jesus (Jo 5.18, 10.33-36). O Senhor Jesus declarou "ser um com o Pai"; isso significa ser o mesmo Deus e não a mesma pessoa (Jo 10.30). A divindade de Cristo é ensinada em toda a Bíblia de maneira direta: "e o verbo era Deus" (Jo 1.1), "este é o verdadeiro Deus e a vida eterna" (1 Jo 5.20) e, também, através dos seus atributos divinos, tais como onipresença, onipotência, onisciência, eternidade entre outros (Mt 18.20; 28.18; Jo 21.17; Hb 13.8).
   Jesus nunca disse "eu acho", "eu penso", "eu suponho"; jamais afirmou não poder resolver este ou aquele problema. Para o Mestre, não há impossível. Jesus não somente declarou ser Deus, mas revelou suas qualidades divinas, demonstrando seu poder sobre a natureza, o pecado, as enfermidades, o inferno, e a morte. Os Evangelhos estão repletos de suas manifestações divinas e sobrenaturais (Lc 24.19; At 2.22). Há vários exemplos desse, como perdoando pecados (Lc 5.21, 24) e por diversas vezes recebendo adoração (Mt 8.2; 9.18; Jo 9.38). Ele afirmou ser o grande "Eu Sou": antes que Abraão existisse, eu sou" (Êx 3.14; Jo 8.58).
   
* A encarnação de Cristo                 Jo 1.14
* A concepção virginal de Cristo     Mt 1.23
* A tentação de Cristo                      Mt 4.1-10
* O ministério de Cristo                   Mt 4.23
* A paixão de Cristo                         Lc 23.26-48
* A ressurreição de Cristo                Jo 20.1-10

   O Apóstolo Paulo sabia sintetizar, de forma singular a vida de Nosso Senhor em 1 Tm 3.16. "E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo e recebido acima, na glória".
   Esse é o Cristo que anunciamos. Somente nEle e através dEle pode o ser humano obter a vida eterna. Sem Cristo, ninguém chegará a Deus. Amém.
 
   Sempre em Cristo,
   Josebias Onorato

Acompanhe a série:
Cristologia (1) - Jesus , quem é este homem?
Cristologia (2) - Jesus o Verbo de Deus
Cristologia (3) - Jesus o Filho de Deus

domingo, 21 de dezembro de 2014

Cristologia (3)

Jesus, o Filho de Deus

   "Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele e ele em Deus".
   Essa era uma confissão apostólica (1Jo 4.15). O objetivo dela era mostrar que apesar de Jesus receber os títulos de Filho, Primogênito e Unigênito de Deus, sua eternidade e divindade precedem tudo.
   O Filho foi gerado por Deus. Na Epístolas aos Hebreus, vemos claramente o escritor fazendo uma retrospectiva de toda uma profecia messiânica, até seu cumprimento absoluto no Filho: "Tu és meu Filho, hoje te gerei [...] "e eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho". At 13.33; Hb 5.5; 2 Sm 7.14. A expressão "Filho de Deus" nas Escrituras, indica claramente a natureza divina de Jesus.
   Cristo, como Filho de Deus, afirma possuir traços semelhantes ao Pai, como o poder para perdoar os pecados (Mc 2.1-12), ressuscitar os mortos (Jo 12.9) e repreender espíritos malignos, ou seja, revela Sua procedência e compartilha a mesma essência e natureza do Pai, "quem perdoa pecados senão Deus?".
   Filho desde a eternidade. O ensino de que o Verbo tornou-se Filho a partir da encarnação não tem apoio entre os teólogos realmente bíblicos, piedosos e conservadores. O Filho de Deus é eterno; sempre existiu; Ele é o Pai da Eternidade. Ele já era chamado Filho mesmo antes da sua encarnação (não confundir com reencarnação), como se vê em 1 Jo 4.9: "Deus enviou seu Filho Unigênito ao mundo, para que por ele vivamos". 
   Acerca desta demonstração de filiação e de relacionamento de amor, comenta D.A Carson:
"'Filiação' é, com muita frequência, uma categoria funcional na Bíblia. Por causa da maioria esmagadora de filhos que terminam profissionalmente fazendo o que os seus pais faziam, 'tal pai, tal filho' era a suposição cultural. Jesus presume isso nas Bem-aventuranças: 'Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus', Mt 5.9. A ideia é que Deus é supremo Pacificador, e assim todo pacificador é, neste aspecto, identificado com Deus, e neste ponto 'filho' do Altíssimo. Este também é o pensamento que está por trás destes nomes tais como 'filho de Belial [indignidade]' e filho da consolação'. A suposição cultural que não está clara é que o homem em questão ou é tão útil ou tão encorajador que o seu pai deve ter sido, respectivamente, indigno ou encorajador. Assim, quando Jesus afirma que o seu 'Pai trabalha até agora', está implicitamente afirmando ser o Filho de Deus, com o direito de seguir o padrão de trabalho que o próprio Deus estabelece a esse respeito"¹.
   Os milagres que operou demonstram que Deus era com Ele, e que, se antes Deus usara profetas, nestes últimos dias falara por meio de seu Filho, por quem também fez todas as coisas que existem (Hb 1.1-8). Esta mesma criação é herança dele (Sl 2.7-8).
   Podemos aprender muito acerca da relação de Pai e Filho entre Jesus e Deus em um episódio ocorrido num dia de sábado, quando o Senhor curou um homem e foi criticado por isto. Para certos grupos nos dias de Jesus, curar no sábado era pecado. Em resposta aos que o acusavam, identificou-se com Deus, o Pai, despertando ainda mais a ira daqueles homens. "E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também", Jo 5.17.
   Ainda neste ponto, devemos ressaltar que Jesus reivindica o direito de trabalhar no Sábado porque Deus é seu Pai, e sendo Jesus o Filho, pode seguir os passos do Pai.
   A relação de Jesus com o Pai revela também sua deidade (Jo 10.30-36). Portanto, é uma heresia e blasfêmia afirmar que Jesus é o Filho de Deus mas que não é Deus.
   Unigênito. Esse termo aparece cinco vezes nos escritos de João, todas relacionadas a Jesus (Jo 1.14, 18; 3.16, 18; 1 Jo 4.9). Isso revela claramente sua divindade. Na Bíblia, essa palavra expressa a ideia de natureza, caráter, tipo, e não de geração. Jesus é o "unigênito do Pai" no sentido do seu relacionamento exclusivo com Ele. Cristo não foi criado por Deus, Ele preexiste eternamente, por isso é chamado de Pai da Eternidade (Is 6.9), conclui-se portanto que, não podendo nenhuma criatura ser adorada, há uma chamada para que os anjos adorem o Filho (Hb 1.6).
   Primogênito. Esse termo quando aplicado a Cristo, não põe em cheque sua eternidade. A Palavra de Deus declara, em muitos textos, que o Filho é eterno (Is 9.6; Mq 5.2; Hb 13.8; Jo 1.3). Na Bíblia, o vocábulo original para "primogênito", além do sentido natural e humano de "filho mais velho", abrange também o significado de primazia, preeminência, supremacia, domínio, autoridade total. Apesar de Davi ser "o filho mais novo de Jessé (1 Sm 16.11), foi chamado de "primogênito"(Sl 89.20,27). O mesmo aconteceu com Efraim. Era este o filho mais novo de José (Gn 48.18, 19), mas fora apresentado como primogênito (Jr 31.9). 
   O Filho é Deus. "Mas do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos, cetro de equidade é o cetro do teu reino" esse termo "Deus" no versículo 8 de Hb 1, refere-se ao Deus de Israel (Sl 45.6,7. No Salmo 45.7 há dua menções proféticas de Deus. A primeira, "por isso Deus", é uma referência a Cristo. A segunda, "o teu Deus", é uma alusão a Deus, o Pai Eterno (Hb 1.8-9). Jesus não está se equiparando ao Pai como uma outra pessoa, uma alternativa, pois é dependente do Pai e subordinado a Ele: "Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se não vir fazer ao Pai", Jo 5.19a. Portanto, Ele nunca ameaça o Pai com competição, apresentando-se como uma alternativa divina. E Ele faz apenas o que vê o seu Pai fazer, "porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente" (Jo 5.19b). Portanto, ambos demonstraram um grande amor um pelo outro, e como Filho, na sua encarnação, Jesus foi dependente do Pai, nunca um competidor com o Pai.    
   
* Sl 2.7     - Jesus e sua encarnação
* Jo 3.16   - O Filho Unigênito foi enviado para nos trazer vida eterna
* Jo 8.36   - O Filho foi enviado para libertar os oprimidos
* Jo 5.18   - O Filho é igual ao Pai
* 1Jo 5.10 - Negar o Filho é negar o Pai
*Gl 1.10   - O Filho de Deus morreu pelos pecadores

  Quanto à divindade:                                 Quanto à humanidade:

 1) Filho de Deus (Mt 8.29)                        Nazareno (Mt 2.23)
 2)Alfa e Ômega (Ap 1.8)                          Carpiteiro (Mc 6.3)
 3)Verbo de Deus (Jo 1.1)                          Filho do Homem (Mt 3.23)
 4) Senhor (Jo 13.13)                                  Filho de José (Jo 6.42)
 5) Eu Sou (Jo 8.58)                                   Filho de Davi (Mt 1.1)
 6) Todo-poderoso (Ap 1.8)                       Jesus de Nazaré (Jo 1.45)

   A posição singular de Jesus com Filho, Primogênito e Unigênito aponta para a sua divindade. O sentido de "Filho" e de "Primogênito" não deve ser entendido pela perspectiva meramente humana. Deve-se estudar como muito esmero esses termos, a fim de compreendermos sua verdadeira significação, pois nos ajudará a desfazer a visão distorcida de muitos grupos religiosos não-cristãos.
   J. Blanchard assevera: "Quando Jesus desceu à terra não deixou de ser Deus; quando voltou ao céu não deixou de ser homem".
   
   Sempre em Cristo
   Josebias Onorato


¹A difícil doutrina do amor de Deus, CPAD.

Acompanhe a série:
Cristologia (1) - Jesus, quem é este homem?

sábado, 20 de dezembro de 2014

Cristologia (2)

Jesus, o Verbo de Deus

   Curiosamente, em nossos dias há pretensas pessoas que alegam, baseadas em pesquisas recentes, que Jesus nunca existiu. É fácil dizer que uma pessoa nunca existiu 2 mil anos após o registro de sua história. A questão é que o homem do século 21 precisa escolher se dará crédito às pessoas que viveram na época de Cristo e relataram que viram o Senhor, ouviram seus ensinos e o tocaram, ou se dará crédito a escritores que não viveram naqueles dias e dizem, mesmo assim, que suas opiniões são dignas de crédito, ainda que não tenham estado lá e presenciado os fatos. Preferimos, não apenas por causa da fé, mas também por causa da credibilidade das testemunhas da época e da convicção de sua eternidade do Senhor, crer que Ele existiu, e que a sua morte nos trouxe a vida. Ele também vive e não muda: "Jesus é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente", Hb 13.8.

O verbo exprime ação. A expressão "verbo" refere-se aos termos "pensamento", "razão". Para a cultura grega, este vocábulo representa algo tão sólido quanto uma parede. Verbo, portanto, transmitia a ideia de existência. Neste aspecto, o Senhor Jesus Cristo reflete o pensamento de Deus, e a manifestação terrena da existência e do poder divino. O apóstolo João demonstra a importância do Verbo de Deus e a sua existência quando diz:"O que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da Vida". 1Jo 1.1. O escritor não apenas viu e ouviu, mas também tocou Jesus.

O verbo cria. João começa seu
evangelho demonstrando a existência do Senhor, e também o poder criador do Senhor Jesus Cristo. "Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez", Jo 13. Isso demonstra que não estamos aqui por acaso, abandonados à própria sorte em um mundo injusto, mas que "tudo"- natureza, animais, pessoas - é fruto de sua criação. Todos fomos feitos por Ele. A criação denota um trabalho inteligente, planejado, ao passo que a teoria da evolução precisa do acaso para ter efeito e, mesmo assim, esse acaso precisa combinar determinados elementos para tentar funcionar. Jesus disponibiliza o seu poder para o crente para que este dê fruto:"Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, este dá muito fruto, porque sem mim nada podeis  fazer"Jo 15.5.

O verbo ilumina.  Diferente de diversos líderes religiosos, que se auto proclamam iluminados e que carecem de luz, Cristo é a própria a Luz. Apenas Ele tem poder para desfazer as trevas da humanidade. Davi recordando-de de seus momentos mais difíceis, disse acerca do Senhor: "Porque acenderás a minha candeia; O Senhor, meu Deus, alumiará as minhas trevas", Sl 18.28. A luz sempre faz diferença onde chega pois traz segurança e verdade, e Jesus é a Luz  dos homens(Jo 1.4).

   Sempre em Cristo,
   Josebias Onorato

Acompanhe a série:
Cristologia (1) - Jesus, quem é este homem?


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Cristologia (1)


   Jesus, quem é este homem?


   Focaremos um precioso período para conhecermos a verdadeira identidade de Jesus. Pois, já estamos no terceiro milênio e milhões de seres humanos ainda não conhecem o verdadeiro Jesus dos Evangelhos. Muitas pesquisas criteriosas foram realizadas sobre a vida e obra de Jesus ao longo da história do cristianismo. No enanto Ele continua sendo o personagem mais controvertido e mais importante da História. Foi tema de vários filmes, desenhos, músicas, livros, poesias, pinturas e teatros como ninguém. Sua história está traduzida em mais de 2 mil línguas e dialetos.
   Ele revelou seu poder sobre o reino das trevas, sobre Satanás e o inferno (Mc 5.7-13); sobre as enfermidades e a morte (Mt 10.8); sobre o pecado e sobre a natureza (Jo 8.46; Mt 8.26, 27). Seus discípulos chegaram a perguntar: "Que homem é este?" (Mt 8.27). O próprio Jesus perguntou certa vez: "Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?" (Mt 16.13). 
   Desde os primeiros séculos do cristianismo, houve tentativa de resposta para essa pergunta, porém muitos tropeçaram porque se embeberara
m em fontes erradas e se estribaram em métodos inadequados. Essa busca resultou em grupos religiosos isolados e seus líderes se tornaram grandes heresiarcas do passado como os gnósticos Simão de Samaria, Saturnino, Basisides, Cerinto, Marcião; os monarquianistas como Noeto, Práxeas, Paulo de Samosata, Sabélio; dentre outros como Ário, Apolinário, Jacó Baradeus, cujas doutrinas cristológicas estão presentes na atualidade. Porém, o Espírito Santo, já havia falado de antemão, pelo ministério do apóstolo Paulo, sobre os pregadores de um Jesus estranho aos Evangelhos: "Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis", 2Co 11.4.

   Os gnósticos

   Foram os primeiros dos citados grupos. O nome vem de gnosis, que significa "conhecimento". Os membros desse movimento ensinavam a salvação através de um conhecimento místico e não pelas fé em Jesus. Eles eram grupos muito diversificados em suas doutrinas, pois diferiam de lugar para lugar, e em seus períodos, como o sírio, o egípcio, o judaizante e o pôntico.Essa doutrina era nada mais que um enxerto das filosofias pagãs nas doutrinas vitais do cristianismo. Negava o cristianismo histórico (segundo ela, o Senhor Jesus não teve um corpo, isto é, não veio em carne, o seu corpo seria uma mera aparência, que chamavam de corpo docético). Seu período áureo foi entre 135-160dC, mas o gnosticismo já dava trabalho às igrejas da época dos apóstolos. O apóstolo João enfatiza que "o Verbo se fez carne" (Jo 1.14) e que "todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus" (1Jo 4.3). É bom lembrar que os escritos joaninos são do final do primeiro século e que foram escritos na cidade de Éfeso, então capital da Ásia menor, de onde surgiu o gnosticismo.

Os ebionitas 

   Eram uma comunidade de judeus cristãos (séculos 2 e 4). O nome "ebionita", segundo Tertuliano, veio de um certo Ebion, gnóstico que sucedeu Cerinto. Mas, Eusébio de Cesaréia afirma que o nome veio por causa da manifestação da "pobreza de seu intelecto". A palavra hebraica ebion significa "pobre". Eles pregavam a pobreza com base em Mt 5.3. Eusébio de Cesaréia afirma que eles criam em Jesus como o seu messias, mas negavam sua deidade, e entre eles havia aqueles que rejeitavam a concepção virginal de Jesus por obra e graça do Espírito Santo. Viviam o ritual da lei e os costumes judaicos, eram hostilizados tanto pelos judeus quanto pelos cristãos. Repudiavam as epístolas paulinas, chamavam o apóstolo Paulo de apóstata e tinham um evangelho próprio, apócrifo, chamado de Evangelho aos Hebreus. Eles estavam dividido em três grupos: os nazarenos, os ebionitas fariseus e os gnósticos ou essênios. Eram numerosos no final do primeiro século, mas aos poucos foram desaparecendo do palco e perdendo-se de vista no cenário da História. Hoje, eles estão manifestos em nova roupagem. 

O Monarquianismo

   Esse movimento surgiu depois da metade do segundo século em torno do monoteísmo cristão. Os monarquianistas se dividiam em dois grupos: os dinâmicos, que ensinavam ser cristo Filho de Deus, mas por adoção; e os modalistas, que ensinavam ser Cristo apenas uma forma temporária da manifestação do único Deus. Tertuliano os chamou de monarquistas, do grego monarcia (monarchia), "governo exercido por um único soberano". Eram os opositores da doutrina do Logos, o alogoi, aqueles que rejeitam o Evangelho de João.
   Teódoto de Bizâncio, "o curtidor", era discípulo dos alogoi, mas aceitava o Evangelho de João com certa ressalva. Foi o primeiro monarquianista dinâmico de importância. Chegou em Roma em 190dC e foi excomungado em 198. Consideram Jesus apenas como um homem que nasceu de uma virgem, de vida santa e que sobre Ele desceu o Espírito Santo por ocasião do seu batismo no rio Jordão. Alguns de seus discípulos rejeitavam qualquer direito divino em Jesus, mas outros afirmavam que Jesus teria se tornado divino, em certo sentido, por ocasião da sua ressurreição.
   Hipólito (170-236) rebateu essas crenças. O mais famoso monarquianista dinâmico foi Paulo de Samosata, bispo de Antioquia entre 260 e 272. Descrevia o Logos como atributo impessoal do Pai. Eusébio de Cesaréia diz que ele "nutria noções inferiores e degradadas de Cristo, contrárias à doutrina da Igreja, e ensinava que quanto à natureza Ele não passava de homem comum". Suas idéias foram examinadas por três sínodos entre 264 e 269 e o último o excomungou. 
   Os monarquistas modalistas que não negavam a divindade do Filho nem a pessoa do Espírito Santo, mas, sim, a distinção destas Pessoas, o que é diametralmente oposto aos ensinos do Novo Testamento, visto que este ensina a unidade composta de Deus em três pessoas distintas. Os modalistas pregavam a unidade absoluta de Deus, coisa que nem mesmo o Antigo Testamento ensina e para apoiar tal ensino mutilaram os textos neotestamentários.
   Seus principais representantes foram Noeto, Práxeas e Sabélio. Noeto era natural de Esmirna e ensinava que "Cristo era o próprio Pai, e o Pai nasceu, sofreu e morreu". Cipriano (200-258), bispo de Cartago, chamou a heresia de Noeto de "patripassionismo" do latim Pater "pai" e passus de patrior "sofrer". Práxeas foi discipulo de Noeto e o seu principal opositor foi Tertuliano, que afirmou:"Práxeas fez duas obras do demônio em Roma: expulsou a profecia e introduziu a heresia; fez voar o Parácleto e crucificou o Pai".
   Desta última escola destacou-se o bispo Sabélio, que se tornou um grande líder desse movimento. Por volta de 215, Sabélio já ensinava suas doutrinas em Roma. Este bispo modalista ensinava que o Pai, o Filho e o Espírito Santo não eram três pessoas distintas, mas apenas os três aspectos do Deus único. Segundo esse bispo, nos tempos do Antigo Testamento, o Pai se manifestou como legislador. Nos tempos do Novo, esse Pai era o mesmo Filho encarnado, e esse mesmo Pai fazia o papel de Espírito Santo como inspirador dos profetas. Hipólito, em Contra Todas as Heresias, refutou essas heresias.
   Prepare-se para uma extensa série sobre a pessoa de Jesus.

Sempre em Cristo,
Josebias Onorato       

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O Pecado Imperdoável

 O sacrifício de Cristo nos faculta o acesso à Deus. Os homens precisam aceitar o sacrifício de Cristo, senão sofrerão o juízo eterno. 
  Entretanto Deus exige de nós responsabilidade no uso dos seus dons, mas deseja principalmente de nós uma vida de santidade. Pode haver na igreja pessoas, que, mesmo tendo experimentado os presentes de Deus - a salvação, o perdão dos pecados, a inclusão na igreja - queiram pecar voluntariamente, não havendo para os pecados de tais pessoas qualquer sacrifício. Pelo fato de retornarem à vida de pecados e pisarem o Filho de Deus, resta-lhes a expectação de algo ruim, pois cairão nas mãos do Deus Vivo.
 No capítulo 3 de Hebreus, está escrito: "Vede irmãos, que nunca haja entre vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo" (v.12). O termo apartar refere-se a apostasia. Esse pecado consiste na rejeição consciente, maliciosa e voluntária da evidência e convicção do testemunho do Espírito Santo, com respeito à graça de Deus manifesta em Jesus Cristo.
 Já no 10.26: " Já não resta mais sacrifício pelos pecados", assevera o texto sagrado. Trata-se de pecados insolentes, que se constituem numa afronta inominável a Deus. Pecar assim é um atentado à santidade do Altíssimo. Loucura que trará sérias consequências.
 A verdade divina liberta (Jo 8.32) quando o pecador a recebe de coração. No entanto, quando a verdade é desprezada de modo deliberado, consciente, doloso, reincidente e ofensivo, por quem a conhece bastante, torna-se impossível o perdão porque tal pessoa repudia e repele para longe de si a graça de Deus, que pode levá-la ao arrependimento. Restando assim uma expectação horrível, pois não havendo mais sacrifício pelo pecado, o que resta? Só uma sentença: "Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo" (10.31).
 Quando esse agravo é contra o Espírito Santo ai a coisa se estreita de uma forma terrível. Por tratar-se de um pecado múltiplo em sua prática: enquanto pisa o Filho de Deus, profana o seu sangue e faz agravo ao Espírito Santo (literalmente, insulto, insolência, ultraje). Para esse tipo de pecador, o Calvário não passa de uma encenação, de uma farsa.
 a) Blasfêmia contra o Espírito Santo
 Com o coração endurecido, o pecador ultraja conscientemente o Espírito Santo. Quanto a isso Jesus advertiu severamente: "Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca obterá perdão, mas será réu do eterno juízo" (Mt 12.32). No texto de Marcos 3.29, entende-s
e que blasfemar contra o Espírito Santo é o mesmo que atribuir a Satanás a obra de Cristo.
b) O pecado imperdoável não é a simples incredulidade
 O incrédulo, de fato, se não aceitar a Jesus, está condenado (Jo 3.18). No caso em questão, não se trata de um incrédulo qualquer, mas de alguém que já teve amplo conhecimento da verdade. O Espírito Santo é que tem o poder de convencer o pecador de seus pecados (Jo 16.8). Se a pessoa o despreza e lhe faz agravo, não há mais esperança para o tal.
c) Arrependimento impossível. No capítulo 6 de Hebreus, o escritor afirma que se torna impossível a renovação para arrependimento daqueles que "uma vez foram iluminados"; "provaram o dom celestial"; "se fizeram participantes do Espirito Santo"; "provaram a boa palavra de Deus e as virtudes do século futuro" (vv.5,6). Qual a razão de tal impossibilidade? A resposta está claramente estampada no texto: por que "de novo crucificaram o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério". Mais uma vez se constata que o pecado imperdoável não é cometido por um desobediente desavisado qualquer, não se trata de pecado por ignorância.        
 A apostasia, o abandono da fé em Cristo, é algo de indescritível gravidade espiritual. Se rejeitamos o sacrifício de Cristo como paga pelos nossos pecados, nenhuma outra provisão haverá para a nossa salvação (vs. 26). O relativismo religioso e o secularismo que debilitam a igreja, afrouxando as regras e os limites entre o santo e o profano, constituem um sinal de alerta a nós. 
 Não rejeitemos a Cristo!

 Sempre em Cristo,
 Josebias.

sábado, 3 de maio de 2014

Divórcio Ministerial

  Juízo sobre os pastores

Ele... purificará os levitas e os refinará como ouro e prata. Assim trarão ao SENHOR ofertas com justiça. Ml 2.17-3.5 


 Em uma igreja antiga, o pregador entrava por uma porta lateral para subir os degraus que conduziam à tribuna. Ao fazê-lo, conta ao zelador ancião as grandes descobertas teológicas que pretendia compartilhar com a igreja, e como aquelas palavras poderosas irão impactar as pessoas presentes. Todavia, nem tudo sai como ele havia imaginado. Ao descer, humilhado, ouve o sábio ancião: "Se você tivesse subido estes degraus como os desceu, então poderia descê-los assim como os subiu!".
  Os pastores da época de Malaquias também precisavam ouvir essa exortação. Ao ministrarem ao povo, estavam eles mesmos sendo reprovados (1Co 9.27), pois eles também estavam sendo desleais, casando-se com mulheres estrangeiras, divorciando-se e descrendo do juízo de Deus. Não se preparavam apropriadamente, purificando-se primeiro a si mesmos, antes de procederem à purificação do povo. Nas palavras de Isaías, são pastores sem entendimento; todos seguem seu próprio caminho, cada um procura vantagem própria (Is 56.11).
No entanto, Malaquias profetiza o "refinamento" de Deus na vida desses pastores, o qual ocorreu alguns anos depois, por meio do ministério de Esdras e Neemias. E, na missão da igreja do Novo Testamento, ... também um grande número de sacerdotes obedecia à fé (At 6.7).
  Que tal continuarmos essa história em nossos dias? Sermos também sacerdotes, pastores que obedecem à Palavra e "sobem" humildemente os "degraus" do ministério? Que se purificam primeiro a si mesmos sob o sangue do Salvador? Que não se amoldam ao padrão deste mundo, mas transformam-se pela renovação da sua mente (Rm 12.2)?

Sempre em Cristo,Josebias 

sábado, 25 de janeiro de 2014

Éden antes do Gênesis? Será?

  O Jardim do Éden realmente existiu antes da narrativa de Gênesis, como dá a entender a passagem de Ezequiel 28.13?
  Os bons interpretes da Bíblia entendem que o Éden a que se refere o texto de Ezequiel 28.13 não é o mesmo relato do Gênesis. Esse Éden de Ezequiel refere-se a um outro jardim, que era governado pelo querubim perfeito Lúcifer, antes da sua queda. Temos de admitir, entretanto, que por mais brilhantes que sejam as interpretações dos eventos pré-adâmicos, elas não passam de especulação, pois a Bíblia não dá detalhes sobre os acontecimentos ocorridos na aurora do tempo.
  Entendem esses intérpretes que em Gênesis 1.1 o texto se refere à criação original  dos céus e da Terra, evidentemente uma terra pré-adâmica, pois somente muito depois Adão foi criado. Em outras palavras, a expressão "No princípio", em Gênesis 1.1, está fora do tempo dos seis dias da Criação, que vai de 1.3 a 2.25.
 A palavra "e", do versículo 2 do primeiro capítulo de Gênesis, indica que a obra citada neste versículo, isto é, a Terra sem forma e vazia, resultou de eventos independentes. Isso quer dizer que, entre os versículos 1 e 2, ocorreram catástrofes que transtornaram a obra criada "no princípio" por Deus. Uma tradução mais fiel ao original seria "e a Terra tornou-se sem forma e vazia". O verbo hebraico que foi traduzido por "era" é hayah, o mesmo traduzido para tornar-se logo adiante, no versículo 7:"o homem tornou-se alma vivente" , e como transformar-se em Gênesis 19.26:"a mulher de Ló foi transformada numa estátua de sal".
  Em Isaías 45.18, encontramos o profeta dizendo claramente que Deus não criou a Terra para ser vazia, mas a formou para que fosse habitada. Então, que eventos a teriam esvaziado? Embora devamos respeitar o silêncio da Bíblia, não podemos fugir à imaginação e à curiosidade humanas, que querem saber mais. Não podemos furtar-nos à especulação. Este mundo pré adâmico foi arrasado durante a revolta dos anjos, de que nos fala Isaías 14.12-14 e Ezequiel 28.11-19. Parece claro que o "rei de Tiro" é uma personagem que simboliza Lúcifer, pois nenhum rei da Terra esteve no Éden, Jardim de Deus.
  Portanto, o Jardim do Éden já existia antes do relato do Gênesis? Se tratamos do jardim onde Adão habitava, não. O que existiu foi um jardim no monte de Deus, na Terra, cujo regente era Lúcifer, o querubim ungido. Esse jardim era ornamentado de pedras mais preciosas do que o ouro. Chegamos a esta conclusão lendo o texto completo em Ezequiel. 
  Lúcifer, o querubim da guarda estabelecido por Deus, era perfeito em seus caminhos desde que foi criado, até que nele se achou iniquidade. Ao que se pode depreender dos textos que a ele se referem, governava sobre a Terra após o ato inicial da Criação, isto é, no período situado entre o primeiro e o segundo versículos do Gênesis. Possuidor de formosura e poder extraordinários, deixou-se possuir pela vaidade e quis transferir o seu trono para o Céu. "Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor", Ez. 28.17.
  Houve guerra no Céu e um terço dos anjos aderiram ao querubim rebelde. João viu estes anjos combatendo na guerra final, ao soar da sétima trombeta (Ap 12.4). Jesus também fez referência a esta guerra, em Lucas 10.18.
  Parece-nos, claro, portanto, embora devamos respeitar opiniões divergentes, que o Jardim do Éden onde habitou o primeiro casal era outro, criado por Deus na obra iniciada em Gênesis 1.3, que restaurou a criação inicial, tornada caótica durante a rebelião levada a efeito por Lúcifer, quando quis transferir da Terra para o Céu a área que lhe cabia reger. O tema nos exorta também à simplicidade, alertando-nos quanto a excesso de poderes que muitas vezes queremos concentrar em nossas mãos e que podem transtornar-nos a vida espiritual.    

  Sempre em Cristo,

  Josebias